Nós Também Somos Animais

Lembrar que somos animais poderia ser uma afirmação óbvia e desnecessária, não poderia? Mas infelizmente não parece ser.

Nem vegetais nem minerais, somos animais

Qualquer criança que tenha aprendido o básico de biologia na escola sabe que toda matéria faz parte de um dos 3 reinos: Animal, Vegetal ou Mineral. Então, se não estou enganada, e não somos pedras nem plantas, somos animais. E nós sabemos disso, em teoria. Sabemos que somos animais mamíferos, da espécie humana.

nós também somos animais - especismo

Mas essa classificação básica simplesmente se afoga no mar da arrogância humana. No dia a dia, é comum ouvirmos frases como “as pessoas e os animais”, ou simplesmente usar o termo “animais” para todos os animais, menos os preciosos humaninhos. Como se fizesse algum sentido essa diferenciação.

As diferenças não importam

Mesmo deixando de lado a simples classificação biológica, vamos falar de diferenças reais então. Tudo bem, uma pessoa não é igual a um cachorro, que não é igual a um passarinho. Cada um tem suas características, típicas de cada espécie. Mas características diferentes não deveriam nunca remeter a diferença de importância. Esse é o ponto principal. Da mesma forma que é absurdo falar que homens são superiores a mulheres ou mulheres são superiores aos homens por conta de seus corpos diferentes um do outro, é igualmente insano julgar os outros animais inferiores ao ser humano, só porque são diferentes.

Não importa quais são essas diferenças, se é uma capacidade maior de pensar, se é a linguagem, ou um dom natural para complicar tudo que é simples. Se fosse assim, na base da competição, o que faríamos com o poder de audição e de olfato dos cães? Como resolveríamos o fato de termos um sentido a menos do que os tubarões? Qual importância teria a capacidade de voar, de correr muito mais rápido, de ter cérebros maiores com comportamentos e linguagem ainda não totalmente conhecidos para o ser humano, como os golfinhos?

A falácia das hierarquias

Não digo tudo isso para tentar inverter a lógica distorcida de que somos superiores, passando essa superioridade para outras espécies. Quero dizer que não existe superioridade nenhuma, em termos de importância. Existem só diferentes comportamentos e aptidões. Como existe também de pessoa para pessoa, inclusive. Se temos qualquer expectativa de igualdade nessa vida, ela precisa se estender a outras espécies também. E não só a outras espécies, mas simplesmente a tudo. Inventar hierarquias é sempre uma loucura. Estamos todos aqui, igualmente. Tudo que existe tem direito à existência, igualmente. Como que isso pode não ser óbvio e automático?

Várias faces da loucura

É absolutamente maníaca a postura do ser humano de se colocar em um pedestal imaginário que ele mesmo inventa. Se reclamamos tanto de políticos que se dão benefícios só porque sim, dão aumento para si mesmos só porque podem, o que estamos fazendo então?

Por que consideramos que podemos explorar e torturar os outros animais em benefício próprio, seja qual for, até o mais insignificante, como um capricho de paladar, por exemplo? Por que tendemos a tratar nossos amigos peludos como se fossem fofos e legais, mas ao mesmo tempo achar que eles devem ficar no quintal e nós no conforto de dentro de casa? De onde vem a audácia de proibir cães na praia, que não é propriedade da espécie humana, é parte da natureza? Quando foi que ganhamos posse da praia e do mundo, para ficar ditando regras com nossa espécie como umbigo e centro absoluto da existência? Por que cuidar de cães é menos importante do que cuidar de crianças? Por que essa ideia intrínseca em muitas mentes de que nós, os reis das bactérias no corpo, somos mais limpinhos que outros animais, e por isso que horror se tiver um cão sentado dentro do restaurante, mas tudo bem pessoas salivando em cima do buffet?

“Ah, mas eles podem passar doenças”. Sim, e cada um de nós também. Ué. Bora se proibir de entrar nos lugares também? A vida vai ficar meio vazia assim, nessa neura de proteção que passa por cima de qualquer coisa. Até de coisas básicas, como o respeito ao próximo. Respeito à vida dele e à vontade dele de ser feliz, que é tão real quanto a nossa.

Podemos nos curar

Vivemos em um verdadeiro hospício, e eu só espero que possamos nos curar, nem que seja aos poucos. De coração mesmo, não acho que temos que nos condenar por essa postura auto centrada, mas só perceber que ela não tem a menor razão de ser. Que ela vem de um lugar de medo e condicionamento. Quando cada um de nós perceber isso, tudo vai ser melhor. Para todo mundo.

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